terça-feira, 17 de abril de 2012

Quando tudo dá certo, mas a vida não deixa - Conto de Love... ( 1° parte)



 Quando cheguei a casa dela naquela noite, era apenas mais um dia em que aquele buraco negro que criou dentro de mim precisava ser controlado. Sempre que eu estava perto delas toda a dor se amenizava.
Quando o rompimento com a descoberta, e o então motivo de suas mudanças acontece, toda a sua estrutura é abalada. Foi um termino difícil e sem explicação que doía muito.
Ela sempre me esperava na porta com um sorriso lindo, e sempre dizia meu nome de uma forma que eu adorava ouvir.
- Que bom que você está aqui!
- Ah, é como se você não soubesse que eu voltaria.
Porque eu sempre voltava, não sei se por ela me fazer sentir que eu podia suportar toda aquela dor, ou se era porque com ela podia ser ela mesma, e isso se transmitia gentilmente para mim.
Da janela do quarto eu não conseguia ver muita coisa, observava que as árvores cobriam parte da bonita paisagem de serrado, mas meus pensamentos logo estavam longe demais pra observar qualquer coisa além de mim mesma. Ela tinha esse poder de me fazer enxergar dentro de mim. Ela permanecia sentada me observando e eu olhava pela janela.
Quando percebi já estava me soltando, e mais uma parte do buraco negro não doía tanto. Tentavam entender como ela fazia aquilo, quando ela me abraçava ou beijava pegava toda minha dor, preocupações, cansaço, e depois sorria. Eu sorria de volta.
Nessa transição de sentimentos, às vezes perdemos o controle, e além de somente pegar a dor do outro, deixamos muita coisa de nós. E não temos idéia do que esse fragmento pode causar.
Quando duas pessoas estão muito próximas, e compartilham do mesmo sentimento isso pode acontecer. Ela acredita ser um dom. Cada um de nós tem algo inexplicável consigo mesmo, que prefere chamar de dom. Eu prefiro chamar de sentimento compartilhado.
Ela não entendia, que enquanto pegava minha dor, eu sentia seus desejos, medos e sentidos, vasculhava o que podia porque isso me deixava viva, me fazia sentir as veias pulsantes, sentia aquele frio que começa da ponta dos pés até os fios do meu cabelo.
A intenção não era invadir a privacidade dela, mas isso não estava no controle. 
As lágrimas são a faxina que fazemos de dentro pra fora. E com a dor dela, descobri que eu podia suportar a minha dor. Quando conhecemos o outro e compartilhamos, podemos entender que a vida e um círculo e uma energia, que sem controle se move, entendendo ou não estamos nesse processo.
                     
^^

                                                                                                                      (A.Souza)

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