quarta-feira, 23 de maio de 2012

A gente é que demora pra entender



Hoje foi registrada a temperatura mais baixa do ano. Senti meu corpo brigando com o tempo pra conseguir me manter de pé. São sintomas de um resfriado, resultado da longa caminhada na noite passada até chegar em casa.
Ontem enquanto caminhava me questionava se conseguiria me manter firme em uma sociedade neurótica e com problemas de caráter. E foi Laura quem me ensinou isso de uma maneira bem dolorosa.
Enquanto nos dedicamos ao mesmo objetivo de incentivar o habito clássico de contadoras de historia, pude escrever a minha própria.
Todos os sábados nos reuníamos com uma turma de jovens ouvintes para contar histórias, ouvir casos e até auxilia-los na busca por seus sonhos.
Compartilhava com eles histórias e discutíamos o que representavam no nosso cotidiano. A minha preferida era a que Laura narrava com emoção, seus olhos iluminavam, emanava o fervor das chamas: A história de Araceli Nunes, uma menina que com 17 anos já praticava sua missão. Aos 22 anos com a vida interrompida por um acidente automobilístico e uma história que pela situação é contada como lenda.
 Laura despertava a personagem de uma forma sincera, como se contasse a sua própria vida. Todos se admiravam com a espontaneidade que Laura despertava seus personagens.
Mas este sábado Laura não compareceu. Segui a nossa rotina diária e contamos muitas histórias, ouvimos jovens que também estavam despertando a paixão por escrever contos e compartilhar conosco.
Quando me despedi de todos, liguei insistentemente para Laura, mas seu telefone estava desligado.
Procurei-a em sua casa, mas não havia ninguém. Procure-a durante dias.
 Quando finalmente a encontrei ela não era mais a mesma. Laura estava muito debilitada. Descobri que ela tinha muito pouco tempo. Não pude acreditar que minha contadora de história se calaria.
Me senti revoltada! Não quis entender como a vida era injusta. Como uma pessoa tão especial, apaixonada pela vida podia ser interrompida sem explicação?
Os médicos explicaram que se tratava de uma doença rara, que estava debilitando Laura. Ela se foi por falência múltipla dos órgãos.
Não contei histórias por algum tempo.
Em uma tarde antes de ir pra aula achei o caderno de histórias que escrevi com Laura. Após ler tudo, e chorar até quase desidratar, descobri que ela, assim como Araceli, foram interrompidas cedo demais. E que cabia a mim, assim como a amiga de Araceli compartilhou comigo a história, eu deveria continuar...
Prosseguir com a obra de contar, gritar, e convencer o mundo de que existem jovens que sonham que um dia tudo será diferente, e que as pessoas poderiam viver em harmonia.
Laura ainda está presente em cada jovem fervoroso que acredita que tudo pode ser melhor. Em cada contadora de história. Em cada boa ação.
E eu ainda estou brigando com o mundo, por uma causa que apenas acabou de começar. A minha própria aceitação de quem eu me tornei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário